- O que você está pensando? – ele perguntou se aproximando
de mim e me olhando confuso.
Estava sentada embaixo de uma arvore. Eram cerca de 3h da
manhã e a festa estava rolando solta pela casa. Eu o olhei de baixo pra cima,
reparando em como ele ficava bonito de camisa xadrez azul e a barba nascendo.
- Muitas coisas diferentes. – eu respondi automaticamente.
Como sempre o assunto morria ali, mas dessa vez eu resolvi continuar. – Estou
pensando em como eu realmente amo o céu dessa cidade. Mesmo quando está de
noite. Estou pensando em como sou ciumenta e quase não demonstro isso, passando
até por insensível e sem dar atenção à pessoa que estou no momento. Estou
pensando em como tive ciúmes de você por estar trocando sms com alguém ou estar
conversando com outra garota. Em como eu não sei se fico com raiva ou me alegro
quando a musica do Lulu Santos se encaixa em dois momentos da minha vida tão
diferentes. Em como ainda não consigo associar uma musica a você. E que parei
pra prestar atenção que não tenho dedos nervosos, na verdade eu tenho, mas são
dedos nervosos pra tocar na pessoa que eu gosto sendo amizade, carinho ou amor.
É aquela vontade de pegar nela, tocar e fazer carinho...
Ele me olhou confuso, não sabendo do que eu estava falando
ou apenas tentando absorver todas as informações que eu havia dito. Não dei
chance dele falar e continuei...
- E agora minha vitrolinha que toca na minha cabeça quase
sem parar está tocando uma musica que meu irmão me “apresentou” outro dia
chamada Olá da banda Roupa Nova. E vai mudando para outras melodias até que
fica um silêncio bom. Aquele silêncio em que eu poderia dormir ou apenas ficar
parada agora, perdida em pensamentos até que você chegou.
Não houve tempo de resposta pra ele. O chamaram e ele
hesitou em ir ou ficar. Eu falei pra ele ir, querendo que ele ficasse. Talvez
ele pensasse que eu não queria a companhia dele ou que não estava dando atenção
suficiente pra ele. Talvez ele estivesse certo. Talvez eu estivesse errada em
ser assim. Eu apenas fiquei olhando pra ele, enquanto ele se levantava, indo na
outra direção, tentando lembrar exatamente o formato do rosto dele, da cor dos
olhos e do jeito que erguia a sobrancelha. Fui me perdendo tentando lembrar dos
detalhes, mas o pouco tempo que eu passava com ele estava me fazendo falta.
Olhei pras minhas mãos que estavam seguras no bolso do meu
moletom. Os dedos mexiam de forma natural. Eu apenas só não sabia dizer se eles
estavam prontos para tocar o rosto dele novamente e poder sorrir. Ou estavam
ensaiando um adeus...
Texto escrito originalmente em 17 de outubro de
2012, quarta-feira, 23:21. Sem adaptações depois de escrito