quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Coisas do Templo



Continuação de: "Pacote de Viagem sobre encomenda..."

Eu morava em Brasília, mas não sabia andar por Brasília. Não nasci aqui, nem lembro onde nasci, mas gostava dessa cidade, mas não sabia andar nela. Minha pouca vida social era direcionada a dar aulas de Filosofia na UnB tentando fazer os alunos chapados aprenderem alguma coisa. Tentar evitar que eu ficasse chapado por respirar o mesmo ar que eles era a meta dos meus dias. Era nessas coisas que eu pensava enquanto olhava para o Templo Budista de Brasília e ficava pensando como nunca tinha vindo aqui. Sempre recusava os convites dos meus alunos, ou das minhas alunas e agora me via aqui olhando pessoas tão distintas espalhadas.

Algumas delas conversavam na fila da comida, outras passam olhando tudo com cuidado e os mais jovens andavam despreocupados, rindo e acenando para os amigos que viam ali. Parecia que sempre marcavam de se encontrarem ali, como aquelas pessoas que fazem amizade de tanto verem uns aos outros nas mesmas festas. E ali estava minha pessoa, totalmente perdido não sabendo onde me encaixar no meio daquelas pessoas. Pensei em meditar um pouco, mas era ateu e me sentia estranho ali. Continuei andando por lá, vendo o centro de pessoas que dançavam algo chamado Matsuri ou riam por nada, concentrei-me na fila de comida a minha frente que estava gigantesca enquanto me arrependia de ter vindo pra cá por causa de uma citação no Facebook.

"E hoje tem Templo Budista, vamos animar galera". E a citação de umas 84654 pessoas e o nome dela incluso.

Aquela garota da agência de viagens que compartilhou comigo um café, as historias da viagem dela, uma aceitação no Facebook e alguns comentários em posts meus havia feito eu querer conhecer o Templo Budista, e conhecer o mundo dela. E havia mais, sempre o olhar as fotos e se perder na cor intensa dos olhos verdes, ou ficar com ciume vendo as marcações de alguns garotos que pareciam conhecê-la tão bem, e eu nada. Ela havia me passado seu numero, eu havia ligado apenas uma vez e agora estava aqui rezando as forças científicas para vê-la novamente e poder compartilhar alguma coisa.

- Logan? - a voz dela me fez virar e vê-la ali parada na minha frente, usando um short de cintura alta, uma blusa escrita ZAP, uma sapatilha nos pés e um lenço pin up na cabeça. Ela estava linda. - Logan? - ela falou mudando o tom de surpresa para alegria, mas mantendo a pergunta.

- Oi, Dani. - eu falei olhando para o lado. Ela estava fora da fila com uns amigos, rindo e se divertindo enquanto eu estava todo sério com um prato de camarão na mão.

- Bem, vamos para o gramado. Não fuja da gente, Dani! - um dos amigos dela falou e arrastou a galera dela.

- Eles foram embora por minha causa? - eu perguntei quando nos sentamos no gramado atrás do templo, depois que ela me fez companhia comendo camarão empanado.

- Nope. - ela falou distraída. - A gente sempre vai pro gramado se reunir aqui. É aqui onde acontece as melhores e as piores coisas do Templo, é meio que uma tradição.

- Porque acontece as piores coisas? - eu perguntei erguendo meu óculos e observando as pessoas fazendo de tudo: se pegando, bebendo, tocando violão, dançando, correndo, dançando, rindo loucamente. Eles parecia tão livres...

- Isso depende do ponto de vista, isso é divertido de alguma forma? Outros não gostam. Digamos que no templo você vive tudo muito rápido, e sofre devagar demais. - ela falou séria de repente.

- Você está falando como se tivesse se apaixonado no Templo e não tivesse dado certo. - eu falei tentando descontrair o clima tenso.

- E foi. - ela falou olhando para um garoto sentado no chão ali na numa roda de pessoas logo na frente. Ele não tinha nada demais: era um pouco baixo, cabelos lisos e curtos, olhos normais e um pouco magrelo. Ela segurou a mão uma na outra ao observar ele, e quando ele olhou pra ela, foi a cena mais estranha e curta da minha vida. Ele sorria, depois fechou a cara e mudou de feição. Os amigos dele acenaram para ela, mas ele continuou fingindo que não a via. Isso doeu nela, eu percebi pela forma que ela mudou o olhar, como se encolheu e como rapidamente se levantou e saiu de perto dele.

- Você ainda gosta dele, né? - eu perguntei olhando pra ela. Ela havia andado firmemente até o prédio mais próximo  onde se sentou e ficou olhando para o além.

- Alguém tem fogo? - um garoto perguntou olhando pra gente.

- Não. - eu falei sem olhar pra ele. Dani tirou do bolso um isqueiro e emprestou para o garoto, que agradeceu e deu um sorriso pra ela, como se memorizasse o rosto da garota que poderia emprestar fogo pra ele de novo. Ou algo mais...

- Não. - ela respondeu depois que o garoto saiu de lá.

- Não o que? - eu perguntei confuso.

- Eu não gosto mais dele. Eu pensava que gostava, mas não. Eu vi ele Templo passado, no caso no outro fds e havia doido de alguma forma. Então hoje, quando eu o vi, pensei que ia doer que nem da outra vez, até me encolhi já preparada para sentir um pouco de dor, mas não ouve nada. Esquisito não? - ela falou relaxando e rindo. Sentou-se de forma a colocar a cabeça dela na minha perna e ficou balançando a perna. - Nunca pensei em te ver por aqui...

- Se eu falar que vim pra cá pra ter ver, você vai pensar que eu sou doido? - eu falei do nada. Ela levantou o olhar pra mim e sorriu.

- Não! - ela falou rindo! - São coisas do Templo.

- Todo mundo fala que são coisas do Templo. Você poderia me dar um exemplo de coisas que acontecem nesse lugar? - eu falei olhando para um casal de garotos que se beijava publicamente, mas havia tanta doçura naquele beijo que não comentei nada...

- Hey Logan. - Dani me chamou. - Olha um bom exemplo.

E então ela me beijou, com a mesma doçura e intensidade que um beijo pode ter, e saiu para onde estava seus amigos onde ria, dançava e se divertia. Eu fiquei ali deitado, olhando para o céu escuro, não reconhecendo nada das musicas que tocavam a minha volta, não me importando com o cheiro de maconha ou apenas cigarro. Eu havia sido beijado e definitivamente estava apaixonado...

Continua.

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