quarta-feira, 18 de julho de 2012

Visita


Chegou a Terra da Poesia com os mesmos pés de quem partiu, mas não carregava nada além de alguns trocados no bolso e suas musicas preparadas para levarem a outro mundo. Não sentiu cheiro de café vindo da sua vizinha, a Poesia Furada estava parada como se definhasse com o tempo. Tentou não pensar nisso. Continuou andando. Não olhou pra sua casa que agora era apenas rascunhos de carvão, se não fosse puro carvão mesmo, mas olhou para o ceu cinza. Continuou andando.

O frio a envolveu, então subiu suas calças jeans e apertou um pouco o cinto. Havia emagrecido, mas estava saudavél. Fechou o ziper do moletom de frio e processguiu para um lugar onde pudesse tomar um café. Havia a casa de seus amigos, mas elas estavam tão vazias agora quanto a presença de certas pessoas em sua vida. Continuou andando.

Chegou à estalagem de  Madame Poetry e adentro o espaço conhecido. Poderia subir as escadas e visitar Cavaleiro, mas sabia que ele assim como quase todos seus amigos tinham deixado a Poesia Furada por motivos pessoais. Podia ser viagem, férias ou apenas partiram. Nesse momento não se importava.

- Café, por favor. - Marshmallow falou sentando-se a mesa perto da janela e tirando seu Numerox do bolso do moletom.

- Um cupcake para acompanhar? - falou o atendente a reconhecendo.

- Sem cupcakes. - ela falou séria. - Se tiver um pão de mel eu aceito. Caso não, apenas o café.

Madama Poetry que observou a entrada de Marshmallow fez questão de trazer o café da garota que aceitou a xícara com um sorriso leve e depois voltou sua atenção ao Numerox. Madame Poetry não se levantou, ficou observando.

- Estais tão magra. - ela começou.

- Acredite quando digo que já engordei uns dois quilos, estava mais magra ainda. - Mars falou finalizando aquela página do Numerox, assinando data e seu nome. Quando fechou a revista, Poetry observou que a revista datava de dois anos atrás.

- Terminando coisas inacabadas? - ela perguntou sem medo de ser indelicada.Marshmallow riu antes de responder.

- Não exatamente, achei na minha casa, estava perdido. - ela falou bebendo café.

- Pensei que sua casa tivesse pegado fogo. - ela falou sabendo que isso era mentira, havia sido a propria garota a sua frente que havia tacado fogo na sua casa.

- Ora, como sabes se essa é minha real casa? - Marsh falou dura. Mesmo assim, de alguma forma suas palavras não eram carregadas de mágoa. - Estava na minha casa de origem, onde meus genitores moram. Estava passando um tempo por lá, ainda não voltei...

- Vais voltar algum dia? - a mulher a frente da garota perguntou.

- Tu acreditas que parti? Tu acreditas que queimei minha casa se não tivesse uma necessidade enorme de refazê-la? Estais equivocada Madama Poetry. - Marsh falou tomando seu ultimo gole de café.

- Acredito. Porque é isso que vejo.

- Estais enganada. - a garota falou passando a mão pela cabeça. - Eu poderia apenas reformar minha casa, destruir algumas paredes, construir novas, ampliar o jardim ou pintar tudo de uma cor nova. Mas eu quis começar tudo de novo, fazer o modo mais difícil.

- E porque? Só porque Andarilho roubou sua fofura não é motivo para ficares revoltada assim.
A garota a frente olhou pela janela onde o vento castigava o pé de café mais próximo, mas ele continuava intacto.

- Não tem haver com Andarilho e as besteiras que ele faz ou deixa de fazer para encontrar o que ele acha que é o caminho certo dele. Não tem haver com Cavaleiro ter se machucado com as Sombras, nem com Homem-Cinza ter se matado, ou com Poetisa ainda estar em busca de um amor. Não tem haver com eles, tem haver comigo. Em pegar as rédeas da minha vida e guiá-las para onde eu acho que serei mais feliz.

- Você não era feliz aqui? - a mulher perguntou.

A garota se levantou, guardou o Numerox no bolso do seu moletom, deixou uns trocados para pagar o café na mesa e guardou o pão de mel na mão como se o reservasse para outro dia, ou outra pessoa.

- Me diga apenas... - a mulher implorou. - Porque queimar a casa?

- Para ver se as bases dela continuavam em pé mesmo depois de tudo. - Marsh falou colocando os fones de ouvido e saindo pela porta dos fundos.

Madame Poetry entendeu que assim como naquela Terra que cheirava café tudo era muito mais do que pensavamos. Marsh falava não da base de sua casa, mas da base das suas vidas. Marsh estava vendo quem era seu amigo depois de tudo que ela havia passado...

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