sexta-feira, 15 de junho de 2012

Cinco anos pra pedir desculpa


Você já sentiu um lixo? E de preferência não reciclável? Pois é, eu já.

Não estou falando de acordar com um 'very bad hair day', ou não achar nada no guarda-roupa, ou de estar vestida de forma errada na festa mais bombástica do ano. Eu falo de falarem coisas pra você ou te olharem e você se sentir suja. Suja a tal ponto que sua unica vontade é se enfiar embaixo do chuveiro e esfregar sua pele até que sangre e assim você se sinta um pouco melhor.

Quando eu tinha 15 anos eu comecei a sair com um cara chamado Marcus quatro anos mais velho que eu. Não era um namoro, não era sexo, não era amizade colorida. Não era nada. Acho que o ficar nem contava devido a poucas vezes que nos beijamos.

Eu tinha 15 anos com menos de dois meses completados, minha unica preocupação não era ir de salto pra escola ou com um cabelo legal, era saber se o livro que eu queria ler já estaria de volta a biblioteca ou se meu amigo na escola iria pra gente compartilhar jujuba. Eu era inocente (sem ironias) e era feliz. Aliás ainda sou.

Mas tinha esse cara. Ele não ia me buscar na escola, não ia na minha casa, não me levava as festas ou era da minha escola. Ele era bonito, legal e insistiu em me beijar. Eu concedi. Eu sabia que não ia dar em namoro, não cobrava e nem queria cobrar. De certa forma apenas tinha rolado, uma ou duas vezes um beijo e mesmo assim eu não estava encantada.

Numa bela tarde, na casa de um amigo estava reunida minha galera da época. Eu estava indo embora de carro, com planos para o dia seguinte (apenas sorvete) quando o vi na rua com os amigos mais velhos dele. Eu apenas me encaminhei até ele e o convidei para ir à sorveteria no dia seguinte.

Eu não sei o que deu nele ou se sempre esteve lá, mas ele me olhou de cima a baixo me avaliando como se eu fosse uma mercadoria barata num mercadinho qualquer. E eu era uma mercadoria que não o agradou. Ele estufou o peito e  falou olhando pros seus amigos: "sair com você? Quem sabe daqui uns anos." A risada dos seus amigos ecoaram nos meus ouvidos cerca de 10 segundos antes de eu voltar de onde não deveria ter saído. Eu não olhei pra trás. Não queria.

Eu acho que contar isso para o Ed e o Dani foi fácil, se bem que eles perceberiam algo devido as minhas lágrimas, mas foi meu amigo Piedro que chegou na cena segundos depois e foi lá e deu o maior e melhor soco que eu presenciei na minha vida, acertando Marcus que caiu no chão com cara de choro.

- NUNCA. MAIS. FAÇA. ISSO. COM. QUALQUER. OUTRA. GAROTA. SEU. IDIOTA. - ele berrou antes de me colocar no carro e me levar pra casa. Não tocamos no assunto, eu ainda estava anestesiada sentindo a sensação de proteção dele e a estupidez do Marcus.

Cinco anos se passaram depois disso, e eu não tinha mais meu amigo Piedro pra me proteger do meu lado, mas eu sabia me virar. Eu estava numa livraria, folheando um livro quando duas palavras me atingiram:

- Me desculpa...

Eu ergui minha cabeça e na minha frente estava o Marcus agora mais bonito do que antes, com seus 24 anos de idade e nos olhos um brilho estranho de quem estava indo para o caminho errado, seja lá qual fosse ele. Ele repetiu as duas palavras de antes e um discurso que me soou antigo, como se ele tivesse ensaiado e nunca testado.

- Me desculpa... Por demorar tanto a pedir desculpas por aquela parada do sorvete há anos atrás. Eu nunca fui bom em pedir desculpas.

Eu apenas balancei a minha cabeça e voltei minha atenção ao livro.

- Não se faça de uma pessoa melhor que eu. - ele implorou parando na minha frente ajoelhado.

- Não estou me fazendo de uma pessoa melhor. Eu apenas não sei dizer pra que você veio pedir desculpas. Cinco anos é tempo suficiente pra esquecer alguma coisa ou torná-la inesquecível. E antes que você me pergunte, eu digo que ela se tornou os dois. - ele suspira de forma estranha como se lhe faltasse ar, mesmo um pouco magoada eu não conseguia não me preocupar com ele. - Fica bem tá? Não faz loucura. - eu falei dando um beijo na sua bochecha.

Eu ergui-me de onde estava deixando ele sozinho olhando pra mim. Mesmo hoje depois de tudo eu ainda falo com ele, tratando-o com um sorriso e um murrinho de se cuida. Eu não esqueci o que ele fez, apenas parou de doer.

PS: história verídica.

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