- Acorda, seu
lombrado! - o tapa que meu amigo Carlos me deu perto do ouvido ficou zumbindo
no meu ouvido por alguns segundos, mas eu não ligava eu ainda tinha aquele sol
me aquecendo. Até que ele foi embora e eu acordei de onde quer que eu
estivesse. - Baseado foi bom, né?
- Foi. - eu
respondi seco tentando entender como eu tinha saído do parque
onde estávamos todos reunidos e agora estava numa praça de
alimentação observando o prato de batatas com queijo cheddar a minha
frente: eu tinha fome.
Sem esperar por
mais, eu as ataquei. Eu ignorei o olhar feio do meu amigo Carlos que me dizia
que eu estava fumando maconha demais e passando mais tempo longe do que no
mundo da realidade e apenas me concentrei em comer aquelas batatas fritas. Mas o que me incomodava
além do fato de eu estar por fora do assunto principal, era aquela sensação de
sol.
- Há quanto tempo
estamos nessa praça de alimentação? - eu perguntei.
Depois da risada
constante dos meus amigos, obtive resposta de Guty, minha ficante não oficial.
- Há umas duas
horas, eu acho. Lombra boa, hein? - ela falou piscando pra mim do outro lado da
mesa antes de voltar sua atenção pra conversa.
Eu sorri de volta,
mas era um sorriso fraco. Sinceramente, eu odiava o Dia dos Namorados, não que
eu tivesse passado muitos sozinhos (era na verdade o oposto), mas era que mesmo
dois dias depois os casais se derretiam em olhares e beijos a minha volta
enquanto eu queria apenas um pouco de paz. Sem esperar muito, levantei-me da
mesa e com as batatas na mão e fui para a única área com verde naquele
shopping, o que era uma hipocrisia já que era a área dos fumantes.
- Refrigerante? -
Cristina perguntou sentando-se ao meu lado com uma latinha de Coca fechada,
objeto que devorei em segundos.
- Não sabia que
você tinha voltado a beber refrigerante. - eu falei a olhando.
- Não tomo
refrigerante, sou alérgica a um dos conservantes que existem em refrigerante. -
ela falou olhando pra mim. - Tudo bem?
- Tudo. - eu
menti, mas como ela me olhou com olhos de calma eu admiti. - Não. Estou
estranho demais, não sei que fazer da minha vida. Acho que estou perdido.
- Não acho que
você esteja perdido, você conseguiu achar uma loja onde vender 'Nerds' em
tamanho gigante a caixa e trouxe pra mim. - ela falou sorrindo e me fazendo
sorrir. - Bem, não posso ficar muito tempo, vou pra casa. Quer carona?
- Você é a única
pessoa que oferece carona quando vamos pra casa de ônibus. - eu falei olhando
pra onde nossos amigos estavam. - Eu aceito, já que minha presença ou falta
dela ali não está sendo sentida.
...
Enquanto Cris
tomava um banho já que ia sair eu fiquei na sala do apartamento dela olhando as
fotos espalhadas pela parede branca onde as pessoas escreviam ou desenhavam,
observei as memórias dela enquanto o barulho do chuveiro me acalmava. Estava já
sorrindo como antigamente quando eu percebi no canto direito embaixo
do ‘tema melhores lembranças’ uma foto da nossa turma numa festa. As sensações
e lembranças vieram como uma avalanche na minha cabeça e de repente eu estava
sentado absorvendo tudo com uma velocidade surpreendente.
Na minha cabeça a
nossa historia passava: o dia que a conheci naquele museu, eu caindo e ela me
socorrendo embora tivesse cicatrizes de quedas, o tanto de amigos que temos em
comum, o seu sorriso sempre na minha direção. Oh céus! Como fui tolo em não
querer ela pra mim desde aquele primeiro momento! O nosso primeiro beijo, um
pedido suplicante seu que eu não queria dar, mas que depois me completava. O
que éramos sem ser: o estar junto e separado enquanto você lia e eu fumava, o
café que eu fazia pra você estudar enquanto eu jogava vídeo-game, o não
marcar de sair e acabar se encontrando, a minha mania de estar lá fora sempre
fumando um cigarro ou um baseado enquanto você ficava lá dentro fotografando
suas memórias ou conversando e fazendo novos amigos. Até que um dia eu achava
aquilo banal demais e terminamos, e quando reparei você já era minha
melhor amiga e continuava ao meu lado mesmo quando eu me entreguei ao 'vício'
ou quando conheci a Guty.
- Se você se
machucar dessa vez não vou ter kit de primeiros socorros. - Cris falou já
pronta ao meu lado. E ela estava tão linda com uma blusa branca simples, uma
blusa de malha leve e seu jeans. Mas quando ela me tocou eu entendi que o sol
que me aquecia era ela. E eu fiquei confuso. - Vai sair?
- Sim. - ela
falou pegando a bolsa. - Com o Jeremy. - o sorriso dela foi pequeno, mas me
impressionou. Deveria ter tantas borboletas na barriga dela ao pronunciar o
nome dele que fiquei com inveja.
- Desculpa. - eu
falei me retirando. - Tenho que ir pra casa.
Ela apenas acenou
com a cabeça, me dando um abraço demorado no qual absorvi todos os seus aromas
de uma vez, eternizando-os na minha memória.
Sabe o
que doía agora? Era saber que ela era diferente, espontânea e careta.
E que mesmo ela não fazendo nenhuma das minhas loucuras eu podia saber que ela
estava lá, do meu lado de alguma forma. E o estranho era saber que ela havia
comentado desse Jeremy pra mim e eu ainda brincar que ele era certo pra ela.
Como eu podia tê-la perdido assim?
....
Já na minha casa
(onde minha mãe insistia em dizer que eu era mais feliz quando a Cris estava
mais ao meu lado), eu abri a porta do meu quarto fechando-o em seguida para
poder olhar mais uma vez a nossa foto furtada, onde naquela festa ela me pediu
um beijo. A foto foi tirada antes desse beijo e eu nunca havia reparado que ela
era tão sorridente pra mim. Segurando as lágrimas eu virei à foto pra perceber
o que a legenda dizia num trocadilho com uma conversa nossa e então eu sabia
que de alguma forma ela ainda era ou seria minha novamente.
- Você gosta de
ilusão? É isso mesmo produção? - eu falei estranhando.
- Não exatamente.
- ela falou sem tirar sua atenção do livro que tinha acabado de ganhar. - Só
existe uma ilusão que eu gosto e que nunca me permito esquecê-la por mais
distante que ela esteja.
Na foto nossos
amigos estavam na frente fazendo palhaçadas enquanto estávamos ao fundo
conversando como um quase casal. A
legenda apenas dizia: "Minha ilusão de Dia dos Namorados..."
E assim eu chorei
pela primeira vez.
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Feliz Dia dos Namorados á todos. Que a ilusão vos acompanhe e
embale seus mais doces sonhos. Quem lhe garante que ela não vai se tornar real?
Ao som de More Than This – One Direction <3
Ao som de More Than This – One Direction <3
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